Juliano Moreira, um médico negro baiano, teve um impacto revolucionário no tratamento de doenças psiquiátricas no Brasil e é reconhecido como um dos pioneiros da psiquiatria no país. Juliano Moreira nasceu em Salvador, Bahia, no dia 6 de janeiro de 1873, antes do fim da escravidão no Brasil que ocorreu em 1888 com a Lei Áurea. A mãe era empregada doméstica e o pai inspetor de iluminação pública, o que torna a trajetória desse médico brasileiro ainda mais notável dada a época em que viveu e as barreiras raciais que enfrentou.
É reconhecido como o pioneiro da psiquiatria no Brasil e um dos maiores estudiosos de doenças mentais do início do século XX.
Sua origem modesta não o impediu de alcançar grandes feitos. Demonstrando inteligência e dedicação desde cedo, Juliano ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia com apenas 14 anos, graduando-se em medicina aos 18 anos, em 1891.
O padrinho de Juliano Moreira foi o Barão de Itapuã, Adriano Lima Gordilho, que era médico e professor da Faculdade de Medicina da Bahia. Ele desempenhou um papel crucial na formação e carreira de Juliano Moreira. O Barão de Itapuã reconheceu o talento e a inteligência de Juliano desde cedo e decidiu apoiá-lo financeiramente. Ele custeou os estudos de Juliano, permitindo que ele frequentasse a Faculdade de Medicina da Bahia, onde Moreira se formou em 1891 com apenas 18 anos, destacando-se como um dos alunos mais brilhantes de sua turma.
Após a graduação, Juliano Moreira se dedicou ao estudo das doenças mentais e da psiquiatria. Em 1895, viajou à Europa para estudar com os maiores especialistas da época em Berlim, Viena e Paris. Durante seu tempo na Europa, Moreira teve contato com as teorias mais avançadas em neurologia e psiquiatria, que influenciaram profundamente seu trabalho subsequente.
Contribuições à Psiquiatria
Ao retornar ao Brasil, Juliano Moreira trouxe consigo novas perspectivas e métodos de tratamento para doenças mentais. Em 1903, foi nomeado diretor do Hospício Nacional de Alienados no Rio de Janeiro, onde implementou uma série de reformas, abolindo práticas desumanas e introduzindo tratamentos mais humanitários e científicos. Uma de suas grandes contribuições foi a introdução da psicoterapia e de métodos de tratamento baseados em evidências científicas, em vez de práticas punitivas e supersticiosas. Moreira também foi pioneiro na luta contra o preconceito racial dentro do campo médico, sendo um dos primeiros a rejeitar teorias racistas que associavam doenças mentais a fatores raciais.
Sua contribuição na inovação do tratamento psiquiátrico no Brasil se deu por vários aspectos:
Adoção de Abordagens Científicas e Humanistas: Moreira trouxe uma abordagem mais científica e humanista ao tratamento de doenças mentais, rompendo com práticas desumanas e estigmatizantes comuns na época. Ele enfatizou a importância de tratar os pacientes com dignidade e respeito.
Combate ao Racismo Científico: Ele desafiou as teorias racistas prevalentes que associavam determinadas raças à degeneração mental. Moreira demonstrou que as doenças mentais não tinham relação com a raça, mas sim com fatores sociais e ambientais.
Reforma das Instituições Psiquiátricas: Juliano Moreira implementou reformas significativas nos hospitais psiquiátricos brasileiros. Como diretor do Hospital Nacional de Alienados (atual Instituto Municipal Nise da Silveira), ele melhorou as condições de vida dos pacientes, eliminando o uso de celas e correntes e promovendo atividades terapêuticas.
Educação e Pesquisa: Ele foi um educador dedicado, ajudando a formar uma nova geração de psiquiatras no Brasil. Moreira também foi prolífico na pesquisa, publicando vários trabalhos científicos que ajudaram a avançar o campo da psiquiatria.
Fundação de Instituições: Participou da fundação de várias instituições científicas e médicas, como a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, que promoveu o intercâmbio de conhecimentos e práticas médicas modernas.
Reconhecimento Internacional: Moreira foi um dos primeiros médicos brasileiros a ganhar reconhecimento internacional. Ele participou de congressos internacionais e manteve contato com os principais psiquiatras da Europa, trazendo inovações para o Brasil. Essas contribuições de Juliano Moreira não só melhoraram significativamente o tratamento e a compreensão das doenças mentais no Brasil, mas também ajudaram a desmistificar preconceitos raciais e promover uma prática médica mais ética e inclusiva.
Foi aprovado com apenas 23 anos de idade, diante de uma banca formada por homens brancos e de ideologia ainda escravocata, para ocupar a cadeira de professor de Clínica Psiquiátrica e Doenças Nervosas da Faculdade de Medicina da Bahia. Juliano Moreira realmente teve uma carreira acadêmica notável. Ele foi professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde contribuiu significativamente para o avanço da psiquiatria e neurologia no Brasil. Além disso, ele era membro de várias sociedades científicas, tanto nacionais quanto internacionais, o que demonstra o seu reconhecimento e prestígio na comunidade médica.
Juliano Moreira foi palestrante em vários congressos internacionais, incluindo o Congresso de Medicina Interna realizado em Berlim em 1900, onde ele apresentou uma palestra sobre psiquiatria. Além disso, ele foi presidente do Congresso Internacional de Higiene Mental, realizado no Rio de Janeiro em 1922. Este congresso foi um marco importante na história da psiquiatria no Brasil e no mundo. Suas contribuições para a pesquisa e o conhecimento médico foram vastas, especialmente em áreas como sífilis e outras doenças neurológicas, que lhe renderam reconhecimento internacional. Juliano Moreira foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins, destacando seu papel fundamental no desenvolvimento dessas disciplinas no Brasil.
Além disso, ele ocupou cargos de liderança importantes, como a presidência da Academia Nacional de Medicina, demonstrando sua influência e respeito dentro da comunidade médica brasileira. Sua importância também se estendeu para além das fronteiras nacionais, sendo um dos fundadores da Academia Brasileira de Ciências e servindo como seu presidente de 1926 a 1929, o que evidencia seu reconhecimento e contribuição para o avanço da ciência no Brasil.
Em 1925, quando ocupava a vice-presidência da Academia Brasileira de Ciências, Juliano Moreira recebeu Albert Einstein, que estava em sua primeira visita ao Brasil.
Legado
Moreira dedicou sua vida à melhora do tratamento de pessoas com doenças mentais e à luta contra o racismo e a discriminação no campo da medicina. Seu trabalho estabeleceu as bases da psiquiatria moderna no Brasil e influenciou gerações de médicos e pesquisadores. Além disso, sua defesa dos direitos dos pacientes psiquiátricos e sua postura humanista deixaram um legado duradouro na forma como a saúde mental é abordada no país.
Juliano Moreira faleceu em 2 de maio de 1933, no Rio de Janeiro. Em sua homenagem, várias instituições de saúde mental no Brasil foram nomeadas em sua memória, perpetuando sua contribuição inestimável à medicina e à sociedade.